Falta de treinamento prejudica programa de micro popular
Os participantes de audiência pública realizada hoje pela Comissão de
Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática chegaram à conclusão de
que, embora promissor, o programa Cidadão Conectado precisa ser
divulgado para alcançar a meta de inclusão digital de 2 milhões de
famílias com renda entre 3 e 10 salários mínimos (de R$ 900 a R$ 3
mil). Anteriormente conhecido como PC Conectado, o programa oferece
linhas de crédito para a compra de computadores de até R$ 1,4 mil.
A principal ação do Governo Lula pela inclusão digital foi questionada
especificamente por utilizar o software livre nos equipamentos.
Representantes de empresas de programação e informática temem que, sem
treinamento para o uso desses programas, o comprador do micro popular
opte por piratear softwares mais conhecidos de programas proprietários,
como o Windows.
Pirataria
O deputado Walter Pinheiro (PT-BA), integrante da Frente Parlamentar do
Software Livre, observou que 79% da população brasileira nunca usaram
computadores e 89% nunca acessaram a internet. "Quando falamos sobre
qual software usar no Brasil, tanto os softwares livres quanto os
proprietários são desconhecidos pela população de baixa renda",
destacou.
O presidente da Associação Brasileira de Software Livre (Abrasol),
Jayme Álvares Gomes Filho, ressaltou que o cidadão comum não sabe nada
sobre o programa nem sobre o software livre. Gomes Filho também se
disse preocupado com a falta de capacitação desses novos usuários de
computadores. Segundo ele, ao incentivar a compra de equipamentos
eletrônicos sem o treinamento devido para a utilização dos programas,
"o governo pode acabar promovendo a pirataria de softwares".
O representante da CompTia na América Latina, Gilberto Galan, observou
que 90% dos computadores vendidos em países emergentes sob programas
que utilizam softwares livres acabam utilizando programas piratas em
substituição.
A CompTia é uma associação que atua em 103 países e tem 20 mil empresas
associadas. Entre seus participantes estão algumas das maiores empresas
de computação do mundo, como a Sun, a IBM, a HP e a Microsoft. Apesar
desse perfil, Galan defende a "neutralidade tecnológica", que
permitiria à população escolher entre softwares livres, proprietários
ou híbridos.
Desafio
Em resposta a essa preocupação, o diretor do Serviço Federal de
Processamento de Dados (Serpro), Sérgio Rosa, disse que os incentivos
são para todas as empresas, mas que o governo fez uma aposta nos
programas que ele próprio vai financiar. Rosa fez ainda um "desafio" às
empresas para que demonstrem a diferença entre softwares livres e os
proprietários a uma pessoa que nunca utilizou computador. "A tela do
computador é idêntica e os softwares têm as mesmas funções".
O diretor-presidente do Instituto Nacional da Tecnologia da Informação
(ITI), Renato da Silveira Martini, ressaltou que, além de reduzir o
custo final do micro, o software livre permite que qualquer empresa
interessada desenvolva novos produtos com soluções aplicáveis a esses
programas.
Na avaliação do secretário de Políticas de Informática do Ministério da
Ciência e Tecnologia, Marcelo Lopes, a associação de políticas social e
industrial é o principal foco do projeto. "Ao promover a inclusão
digital, o programa também está criando uma indústria nacional",
avaliou.
Leia mais:
Codefat liberou R$ 250 milhões para inclusão digital
Reportagem - Marcello Larcher
Edição - Francisco Brandão
http://www.camara.gov.br/internet/agencia/materias.asp?pk=75829
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